Mindfulness é um treinamento intensivo dos processos atencionais de autocuidado no corpo, na meta-atenção (observação de pensamentos) e nas emoções.
Tal como um cientista, que com um microscópio examina sem preconceitos cada pormenor de alguma espécie, ou como um arqueólogo que explora uma nova área de escavação, praticar Mindfulness significa perceber, investigar, com esses olhos curiosos e interessados em nós mesmos.
A princípio não é fácil, mas o nosso cérebro tem essa característica incrível: durante toda a nossa vida, ele é capaz de aprender competências novas, de evoluir, de se modificar (característica chamada de neuroplasticidade). Basta treinar.
Assim, com o tempo e com a prática vamos “tirar a cabeça das nuvens”, descer para o corpo (que está sempre presente) e aprender a estar com a nossa atenção cada vez mais no aqui e agora.
Quanto mais praticamos, pensamos menos no passado, que já não existe, mas no qual temos tendência a ruminar e pensamos menos no futuro, que ainda não existe, mas que se faz presente através da imaginação e nos assusta.
Vamos sentir o corpo, a cada momento, trazer autocuidado, suavizar o estresse e perceber com clareza a circunstância que vivemos, agindo cada vez melhor de forma consciente e coerente com a forma como queremos viver e nos sentir.
Praticar Mindfulness tem muitas vantagens e, por mais que vivamos em momentos diferentes da vida, todos podem se beneficiar desta prática que se adapta às necessidades e ensina a cuidar, nutrindo uma atitude atenta e gentil. Os benefícios incluem:
- Desenvolver a capacidade de atenção e concentração: A prática nos ajuda a ficarmos concentrados numa única coisa de cada vez e durante mais tempo. Também nos ajuda a desenvolver a flexibilidade da atenção, ou seja, a passar facilmente de um objeto alvo da nossa atenção para outro.
- Desenvolver tranquilidade interior e aceitação daquilo que é através da regulação emocional. Aprendemos a perceber as emoções assim que elas surgem, nos ajudando a sermos menos reativos. E ao mesmo tempo, aprendemos a dedicar tempo para observar o que se passa dentro de nós antes de agirmos. Por exemplo, vamos descobrir que quando estamos zangados existe uma necessidade que não compreendemos. Essa emoção não é “boa” nem “má”, mas está presente para nos dar informações sobre o nosso estado interno. Vamos observá-la e acolhê-la. Não vamos rejeitá-la ou ignorá-la, mas também não vamos deixar que ela tenha poder sobre nós. Isto ajuda a que, pouco a pouco, nos compreendamos e aceitemos melhor. E, indiretamente, compreendemos e aceitamos melhor os outros.
- Aprender a não entrar em conjecturas, que causam estresse: o pensamento é uma ferramenta maravilhosa mas, muitas vezes, se apodera de nós, impedindo-nos de estar presente, de desfrutar bons momentos, de conseguir dormir. Sabe quando você está tomando café com uma amiga querida que fala, mas a sua cabeça está naquele email que você recebeu mais cedo? Então, o Mindfulness ensina a não se prender tanto aos pensamentos e a voltar a atenção para o que é do nosso interesse no momento.
- Distanciar-se: aquilo que sentimos, experimentamos ou pensamos não é forçosamente a verdade, mas um ponto de vista. De forma que as nossas emoções, sensações e pensamentos são ferramentas que nos ajudam a conhecer-nos e a captarmos o ambiente que nos rodeia. Mas são apenas experiências vividas num determinado momento. Uma outra pessoa poderia viver a mesma situação de forma diferente; ou até nós mesmos poderíamos viver a mesma coisa de forma diferente. Esta perspetiva permite-nos não levar determinadas coisas tão “a peito” e aceitá-las melhor.
- Saborear a vida: ter a habilidade de perceber que estamos agindo no piloto automático e ser capaz de agir com consciência. Sabe quando você dirige para algum lugar e só se dá conta quando chega lá de que não viu nada ao longo do caminho? Nós perdemos muita informação enquanto estávamos no piloto automático. Trata-se de pausar, estar (perceber), aqui e agora, sem necessariamente fazer alguma coisa; e quando fazemos algo, trata-se de estarmos totalmente presentes naquilo que fazemos. Deste modo descobrimos uma árvore linda no caminho da escola que nunca tínhamos visto porque só pensávamos em chegar a tempo.
- Desenvolver melhores relações com os outros: não há presente melhor a oferecer do que a nossa atenção total no momento presente, e mesmo assim, ter tempo para isso no nosso “mundo moderno” é cada vez mais raro. Há uma grande conexão quando ouvimos com atenção o outro, além disso, notamos sutileza na comunicação que não percebemos no hábito, como mudanças de expressões, postura, a quantidade de contato visual e, mais importante, o que não está sendo dito.
Para ficar bem claro, é importante saber também que Mindfulness não é meditar necessariamente, não é relaxar, esvaziar a mente ou fazer bem alguma tarefa. Em Mindfulness mudamos a perspetiva que o mundo nos impõe, na verdade, nesta prática as dificuldades são amigos de viagem.
Com carinho,
Cíntia
Referências:
What is Mindfulness, Dr Tamara Russell, Watkins, 2017
Meditação Feliz, Valérie Marchand, 4 Estações Editora, 2019