A minha gravidez, o período no qual a Ivy nasceu e viveu os seus primeiros 2 anos, foi uma época na qual eu me sentia exausta e estava muito vulnerável. Nesta época eu e o meu marido passamos a viver juntos, a minha mãe passava por um tratamento de câncer e as mudanças no meu corpo dificultaram muito a minha forma de viver.
Enquanto isso, todo mundo parecia saber ser melhor mãe do que eu, todo mundo tinha algo a dizer acerca de como cuidávamos da nossa filha. Tinham dicas e julgamentos, “isso não se faz assim”, “você quer saber mais do que eu? Eu já fui mãe e na minha época…”
Enfim, com a falta de sono, as dificuldades mais íntimas e todo estresse, eu me sentia mesmo incapaz e precisava dormir e nesta escutamos um dos conselhos: “deixa a criança chorar até dormir”. Foi uma semana na qual a Ivy ficou no seu berço a chorar enquanto eu ficava na minha cama a chorar também.
E ela chorava tanto que chegava a vomitar. Eu vejo hoje que a única coisa que na realidade fizemos foi colocar a nós duas em grande sofrimento. Afinal eu conheço a minha filha e percebia claramente as suas necessidades, mas na falta de confiança (veja bem, as minhas necessidades estavam em segundo plano), me deixei fazer “o que está certo”.
Além disso, lembro-me da minha mãe e do meu pai, que eram super amorosos, me falarem que “aquilo não existia, que era uma crueldade”, eu também achava, mas ao mesmo tempo me achava insuficiente e péssima mãe, eu tentei algo que nada tinha a ver comigo ou com o que eu aprendi com eles.
Neste momento, saiba que estou respirando fundo para continuar. Vamos lá.
No sétimo dia eu disse basta a esta situação porque não tinha mesmo nada a ver com a minha maneira de ser e eu não conseguia suportar mais. Por causa desta semana aprendi a escutar a mim mesma, e a olhar para a minha filha e perceber da melhor maneira possível o que ela precisava, a respeitar o meu lado materno.
“Ah, mas em apenas uma semana não é possível fazer dar certo, você é muito fraca, era preciso insistir mais”, foi o que ouvi.
Bem, lembro-me de pegá-la no colo, de pedir-lhe desculpas e de aconchegá-la nos meus braços para dormir, como se fosse um pintinho sob as asas da mãe e dormimos bem assim, juntinhas.
E ao longo dos anos percebi que respeitar as necessidades de uma criança passa longe de não lhe mostrar limites. Ao respeitá-la, ela me respeita também. Ao confiar nela, ela confia em mim também, e assim seguimos em diálogo. Quando discordamos, o que acontece muito, cada uma expõe o seu ponto de vista. Depois de uma briga, nos acalmamos e fazemos as pazes.
Mais importante ainda, se ela se sente insegura, ela se aconchega na gente à noite e sabe que pode sempre contar com isso.
Não quero dizer que existe uma forma certa ou errada de fazer as coisas, mas uma forma viva ao meu entender, que vê o outro, independente da sua idade, como um ser vivo que tem uma personalidade, uma individualidade, diferente da minha. Uma forma de ver o mundo diferente da minha. E isso faz todo sentido para mim e para a nossa família.
Através desta perspectiva, aprendi que não importa o que eu sei sobre criar uma criança para uma mulher que acabou de ter um bebê, por exemplo, se ela me perguntar alguma coisa eu posso sempre partilhar o que fiz, mas digo também que ela vai saber o que fazer se nutrir um contato com o seu pequenote maior do que o contato com o medo de “fazer errado” (e que isso pode sim gerar julgamentos externos, mas eles têm o espaço e o tamanho que escolhemos lhes dar).
Cá entre nós, os nossos filhos roubam a nossa atenção, estamos biologicamente em alerta constante para cuidar deles, pode ser que não seja tão difícil assim ignorar a opinião dos outros e fazer o que você sente que está certo, experimente.
Cuidar com amor e sentir-se em paz tem um valor enorme!
Afinal de contas, quem fala as “verdades sobre a maternidade” tem os seus próprios problemas, passou por momentos diferentes, está tudo bem. Assim, no que diz respeito à minha vida, posso sempre dizer: “Ok, te ouvi e vou fazer do meu jeito. Ficaria contente se você me apoiasse, mas não vou ficar chateada se não o fizer também.”
Mais vale a minha paz interior do que uma vida de aparências.
O que você acha? Faz sentido (ou nem por isso)?
Com carinho,
Cíntia