Tenho o título universitário de Bacharel em Ciências Biológicas e, embora eu não tenha seguido o caminho acadêmico, sempre me identifiquei como bióloga, sempre trouxe comigo essa formação com muito carinho.
Afinal, foi através da que aprendi a valorizar o respeito. Através das minhas experiências com animais sempre notei que ao respeitá-los, eles me respeitavam de volta, simples assim. Algumas interações com cobras na natureza me marcaram nesse sentido e nunca vivi algo que comprovasse o contrário, a não ser com seres humanos.
Além disso, aprendi a ser cientista: a pesquisar, a olhar para as coisas através de uma lupa de curiosidade genuína. Coletando informações, validando ou não hipóteses, simplesmente aprendendo sobre a vida. Por muito tempo acreditei e valorizei só o que era comprovado pela ciência.
Houve um momento que precisei virar a lupa para mim para me compreender e modificar com intensidade.
Acabara de perder a minha mãe com uma doença assustadora, tinha uma filha de 2 anos e comecei a notar os padrões que levaram a minha mãe àquela situação em mim mesma. Transmitir isso para a minha filha estava simplesmente fora de questão. Eu precisava mudar.
Fui aprender a me conhecer e a começar esse processo de mudança. Como cientista, notava não apenas o que sentia, mas também como os métodos me faziam sentir. Experienciei cada passo. Fiz diversas formações, incluindo Coaching e PNL, tudo muito científico, linear. Desenvolvimento em passos definidos por cientistas e autores. Li dezenas e dezenas de livros. E notei que cada método, por mais certo e comprovado que parecesse, só me fazia sofrer duramente a custo de pouco desenvolvimento e de muita frustração.
Com o foco em mudar os meus padrões mentais, em organizar as ideias e memórias em “gavetas bem arrumadas”, engordei 15 kg com aplausos das minhas mentoras, coaches e psicóloga. Cada sessão, dois dias me sentindo fisicamente mal, por vezes vomitava, tinha diarréia e normalmente com enxaquecas horríveis.
Sentia que enfrentava uma guerra interna e estava disposta a vencer. Mas algo em mim sentia que isso soava mal, afinal, para eu vencer essa guerra, eu também perderia. Nunca haveria uma vitória.
Como eu poderia me sentir melhor se tudo o que eu fazia era lutar para apagar o passado e forçar uma performance programada que me fazia infeliz? Bem, dentro deste contexto, dessa loucura que era “investir no autoconhecimento” e “encontrar a minha melhor versão” eu comecei a procurar alternativas.
Encontrei o Mindfulness Neurocognitivo, um protocolo científico que ensina técnicas para treinar o foco atencional,e reconheci nessa abordagem um caminho mais que coerente para desenvolver essa pesquisa sobre mim, um caminho gentil, compassivo e, principalmente, vivo.
Aprendi a me relacionar com as minhas dores, a não guerrear com o que quer que faça parte de mim. Aprendi que cada desafio é uma oportunidade de crescimento. Há um mundo de aprendizados aqui que eu poderia te contar (e vou fazendo sempre por aqui), mas há algo super interessante neste percurso como praticante e professora de mindfulness…
Comecei a identificar alguns fatores em mim que eu não conseguia descrever ou racionalizar, apenas sentir. E foi aí que comecei a me aprofundar na minha espiritualidade e, por mais incrível que pareça, tenho encontrado também muita ciência desenvolvida nesse ramo, mas que é preciso um pouco de esforço para encontrá-las. Mas agora que escrevo, decidi que vou começar a indicá-las aqui no meu blog 🙂
Para finalizar quero deixar claro que a minha intenção para além da partilha é dizer que por vezes simplesmente fechamos a amplitude do nosso olhar e da nossa compreensão porque acreditamos que dentro do que é conhecido estamos mais seguros. A ciência pesquisa a vida e há áreas que não se sabe nada a respeito, há áreas que só existem teorias, há pesquisas que são restritivas demais. A mudança faz parte da vida e a ciência muda com ela, faz todo sentido que seja assim. Houve um tempo em que as células não eram conhecidas e nem por isso deixavam de existir.
A ciência é importantíssima, é com ela que evoluímos a nossa compreensão. Mas ela não pode estar restrita aos cientistas graduados, à uma pequena elite acadêmica que pode dizer o que está certo e o que está errado. Você sabe como ser um cientista: basta sentir o seu corpo, questionar, procurar diferentes opiniões, observar com olhos livres de julgamentos o que acontece à sua volta, tirar conclusões, testá-las, duvidar das “certezas” que existem por aí.
Hoje sou uma cientista que valoriza o que é espiritual e me sinto mais inteira, mais completa, com autonomia para cuidar de mim, com mais liberdade para ser mais gentil com quem eu sou, para aprender com humildade com os meus e as minhas clientes, com outros profissionais, e por aí vai.
Sou grata por isso e muito mais feliz (mesmo com todas as dificuldades que se apresentam).
Com carinho e atenção,
Cíntia Thurler