O sofrimento é um assunto “pesado” ou é, na verdade, inconveniente?

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Vivamus ullamcorper and aliquet odio, sed and lorem imperdie diam aucto at Curabi orci nibh.

Algumas pessoas têm vindo falar comigo que “Não Quero Sofrer” (título inicial deste blog) é um nome muito “pesado” para um projeto. Já disseram também que o nome pode dificultar a aproximação das pessoas porque “ninguém quer falar disso”. 

Eu compreendo o que querem dizer. Veja bem, são pessoas que adoro que me disseram isso, que têm em conta o melhor para mim, e percebo este ponto de vista (até porque conversamos sobre isso). 

Realmente não é bonito aos olhos do marketing mencionar o sofrimento com um foco de luz enorme. Afinal, ninguém quer sofrer. E decidi partilhar as nuances destas conversas porque são importantes a nível de consciência, e também de transparência

Disse-lhes que a intenção é promover qualidade de vida suavizando o sofrimento através da humanidade compartilhada. E só se compartilha humanidade com humildade, honestidade e com uma sinceridade radical, fatores, assim, estruturais neste processo, neste projeto. E quis desde o começo incluir a palavra “sofrer” no nome. 

Além disso, não é porque ninguém se sente confortável em falar sobre isso que vou dar voltas ou fantasiar o assunto para ficar mais bonito e aceitável. Mesmo que este seja o hábito nas redes sociais.

Desta forma eu não seria honesta comigo mesma, estaria construindo um jogo e não um projeto que quer mudar vidas. Não penso em fazer marketing, penso em divulgar experiências e ideias reais, em estimular consciência.

Agora, veja se você concorda comigo. Me parece que o motivo pelo qual as pessoas não querem falar sobre sofrimento é porque querem evitá-lo, e está tudo bem. Mesmo que evitar algo não faça este ‘algo’ desaparecer – não é porque não QUERO sofrer, que isso vai deixar de acontecer, não é mesmo? 

Mas o mais alarmante foi, numa destas conversas perceber o seguinte:

O sofrimento é inconveniente na nossa sociedade

Imagina perguntar para um colega de trabalho “Como você está?” e ele responder “Nada bem, estou em sofrimento”. Bem, considerando que ele não foi vítima de julgamentos (para não nos perdermos no raciocínio), essa pessoa vai precisar de atenção e todos somos capazes de perceber isso. Seja de uma conversa mais demorada, de um abraço ou talvez até mesmo ir para casa e não trabalhar para se cuidar.

Isso, numa realidade voltada para o desempenho e para a alta performance é impensável. Eu já ouvi algo do tipo:

“Como assim tirar um mês de folga para viver o luto enquanto existem contas para pagar?!” 

Essa é uma questão social. Se todos nós tivéssemos as nossas necessidades cuidadas, haveria espaço para o luto, para a perda, para o divórcio, para a depressão, para a ansiedade, para… o sofrimento. 

E não é só a “perda de tempo” que o sofrimento hipoteticamente promove, mas também a vulnerabilidade, o julgamento: quem sofre é fraco, é incompetente, não é profissional, é (veja só) inconveniente.

Isso nos isola mesmo estando em sociedade. 

Nos faz esconder, evitar, tentar eliminar, lutar contra, a fazer pouco caso do sofrimento que sentimos. Agimos como se fosse algo controlável e vestimos uma armadura visual impenetrável, que é cada vez mais facilitada pela tecnologia (não há mais fotos sem filtro de “beleza”). 

Mas tem um detalhe, todas estas alternativas só fortalecem ainda mais o sofrimento, e ainda geram outros, não é mesmo?

Do meu ponto de vista, o antídoto para essa realidade que tem prejudicado a nossa saúde de uma forma exponencial é fazer com que esse isolamento acabe, que a gente possa se sentir acompanhado em algo que todos nós sentimos.

Que o sofrimento seja validado como algo que existe, que não é “bom” nem “mal” e muito menos inconveniente, mas algo que é o que é, e que precisa de atenção e cuidado

Sabe, ao abrir espaço para o sofrimento e cuidar, vemos possibilidade e disposição para cuidar do que está ao nosso redor, com o tempo vou trazer estudos científicos que comprovam esta afirmação, vale a pena. 

O sofrimento nos mostra claramente o que não queremos, nos ensina e dá a oportunidade de pensar em COMO queremos nos sentir e nos colocar em movimento neste sentido.

Além disso, da mesma forma que os nossos olhos vão se adaptando ao escuro quando estamos sem luz, quanto mais entramos em contato com algum termo, mais familiarizados ficamos com ele. Por isso não vou fantasiar, não é normal as coisas acontecerem num estalar de dedos, mas aos poucos, num processo complexo. Temos tempo.

Por isso, apesar da grande necessidade que vejo no mundo, não tenho pressa de fazer a minha mensagem chegar a muitas pessoas, cada um tem o seu ritmo, eu tenho o meu ritmo (e não respeitá-lo gera sofrimento em mim).

Este é um trabalho no qual sinto verdade em cada palavra que escrevo, em cada atividade que ele envolve e que há intenções fortes que querem promover mudanças. Não é fácil, é muito trabalhoso, mas que me faz feliz, que nutre o meu interesse. 

Parece-me que o sofrimento é um assunto pesado porque o consideramos inconveniente.

O que você acha?

Com carinho,

Cíntia

Picture of Cintia

Cintia

Bióloga, Professora de Mindfulness Neurocognitivo, Coach e Terapeuta Holística em formação, dentre outras coisas. A minha intenção ao escrever é sobretudo partilhar a minha humanidade. Por vezes pura e simplesmente, por vezes trazendo informações científicas e mais que relevantes para o nosso desenvolvimento. O meu propósito de vida é cuidar e sei que quando temos informações, temos liberdade de escolha e que quando partilhamos a nossa humanidade, nos sentimos acompanhados. Vamos juntos.

partilhar este artigo:

Facebook
Pinterest
WhatsApp
LinkedIn

Aulas individuais

para desenvolver os seus recursos de autocuidado e compaixão, construindo autonomia na manutenção do seu bem-estar. Aulas individuais.

para nutrir a alma

neuroplasticidade cérebro neurociência viver bem treinar a mente mindfulness

“Estou velho demais para aprender algo novo”, só que não

Conhecer o funcionamento do nosso cérebro é determinante na percepção de como estamos e no nosso processo de escolhas conscientes. Hoje vamos conversar sobre o potencial ilimitado de aprendizagem do cérebro, a forma como ele se transforma e cria novas conexões ao longo de toda a vida, de forma que ninguém é velho demais para aprender algo novo, muito pelo contrário.

ler mais