Não quero sofrer… por causa da minha atitude

Uma experiência viva que conta como a nossa atitude diante das circunstâncias pode alterar a forma como lidamos com elas. Com espaço mental para fazer o trabalho, foi possível perceber que ter materiais adequados deixaria a experiência mais suave.

COMO A ATITUDE SE RELACIONA COM A FORMA COMO NOS SENTIMOS

Eu tenho uma máquina de costura há seis anos e usá-la sempre foi um desafio.

Talvez por isso eu a tenha usado tão poucas vezes. Na altura que a comprei eu fazia peluches de crochet (amigurumis) e a ideia era fazer as roupinhas de tecido, afinal eu adoro inventar coisas novas e misturar diferentes técnicas de artesanato.

Entretanto, toda vez que decidia usar a máquina de costura era um estresse. Linha para todo lado, que embolava, arrebentava, que não costurava direito. Eu com tecidos de teste em uma mão, o manual na outra, ficava horas nessa aflição. E quando acabava a linha da carretilha então?! 

O meu coração disparava, era difícil colocar a linha na agulha, as minhas mãos suavam e eu logo ficava irritada, com vontade de jogar a máquina pela janela. Bem, daí o meu marido chegava, fazia tudo com a maior paciência e perícia e eu costurava as roupinhas que nunca couberam direito nos peluches. Dá para imaginar essa mistura de expectativa e frustração? 

E foi assim que a máquina ficou esquecida num canto qualquer acumulando poeira. 

Até que no mês passado a professora de ballet da minha filha perguntou para a sua turma se alguém tinha alguma costureira na família porque houve algum problema com a costureira que ela costuma fazer os figurinos e precisava de ajuda neste sentido. E a minha filha indicou prontamente a minha sogra, que é excelente costureira e que estava aqui de visita. 

Pronto, tudo certo, ela iria ajudar e o tempo era curto porque não só a apresentação era em 20 dias como a minha sogra voltaria para o Brasil em uma semana. Só que mesmo com tudo agendado a tempo, ela não pôde estar presente e acabou por não ter tempo de fazer as costuras.

Sendo assim, respirei fundo e assumi este papel. Fui ao encontro marcado pela professora para ver e cortar os tecidos, montei as costuras e trouxe tudo para casa para costurar. 

Sempre respirando fundo, porque sabia muito bem da minha experiência com a costura, fui sentindo os pés no chão e pensando em como poderia facilitar este novo processo. 

Já sabia o que precisava fazer porque fiz uma pesquisa mais aprofundada no Youtube. Olhei para as minhas linhas e agulhas e vi que não eram as melhores para a minha máquina e nem para a costura em si, então tratei de comprar um equipamento que fosse mesmo adequado, bom para o trabalho.

Esvaziei a mesa da sala, abri espaço, limpei, coloquei luzes mais fortes, separei tudo o que eu poderia precisar. Com tudo pronto, fui descansar. Eu iria começar o trabalho no dia seguinte pela manhã, era um sábado, e eu me programei para terminar tudo em uma semana. 

Acordei, tomei o pequeno-almoço, e fui para a minha mesa de trabalho. Decidi olhar para cada saia para verificar se estava tudo certo, troquei todos os alfinetes, ajeitei os tecidos de forma a facilitar a costura. Com calma, com música, pronta para o desafio e para estar muito tempo ali.

Com a estrutura das saias arrumadas, fiz uma pausa, andei um pouquinho, abracei a minha filha, tomei um café, um copo d’água e sentei-me em frente à máquina de costura. Mas ao invés de olhar para ela como se fosse encarar uma batalha, coloquei os pés lado a lado no chão, ajustei a minha postura (aproveitei para colocar uma almofada nas costas e uma manta fofinha no assento) e decidi olhar para a máquina com uma curiosidade renovada, como se eu nunca a tivesse visto antes. 

E não é que haviam desenhos na máquina que indicavam passo a passo como colocar a linha… Nossa, que incrível! Isso fazia todo sentido! Fiquei espantada, como se tivesse tirado a máquina da embalagem pela primeira vez. Veja bem, se você costura, pode parecer óbvio, mas eu nunca tinha notado esse pequeno grande detalhe antes.

E os desenhos não indicavam não apenas o caminho por onde passava a linha para a agulha, como o caminho para encher a carretilha. Achei superinteressante! 

Com isso, coloquei a linha com a maior alegria e com sucesso. Reparei como fiz bem em comprar o material adequado porque os rolos de linha que eu usava não se encaixavam tão bem na máquina. E preparei tudo na maior leveza, que curioso.

Assim, comecei a costurar. Os alfinetes meio achatados que eu comprei facilitaram a forma como eu segurava os tecidos e a costura foi fluindo e eu me senti bem enquanto isso. Estava me divertindo muito e não esperava. 

Bem, para concluir, fiz toda costura no sábado mesmo, e terminei tudo ao final da tarde mesmo fazendo vários intervalos. Fiquei toda orgulhosa, mesmo sabendo que nada do que eu tinha feito estava perfeito, olha que interessante.

Houve momentos em que a linha se partiu e tive que continuar a emendar a costura, teve momentos em que costurei errado e tive que refazer tudo… além disso não posso dizer que o acabamento ficou num nível profissional, mas alcançaram as expectativas da professora e as necessidades do figurino em si. 

Você consegue perceber que anos atrás a minha atitude dificultava o uso da máquina? Que quando eu encarava a situação como se fosse travar uma luta, “dava tudo errado”. E que quando eu decidi olhar com interesse não só consegui fazer o que queria como me diverti enquanto fazia? 

E sim, estou vivendo um momento diferente e me sinto mais disposta para fazer coisas neste sentido, mas não posso ignorar anos de prática de mindfulness cujo ponto de partida é a atitude que definimos ao começar a prática, justamente esta atitude de interesse genuíno. Agradeço à minha prática de mindfulness por isso, por me proporcionar fluidez em fazer coisas que são difíceis para mim, e sei que a intenção de quem estuda e difunde essa técnica é justamente essa, melhorar a nossa qualidade de vida nas coisas mais simples. 

A ciência comprova a nossa capacidade ilimitada de aprender coisas novas (neuroplasticidade) e também o nosso poder de controlar as nossas próprias ações (através do sistema de freio do cérebro), de forma que podemos sim escolher a atitude que iremos ter em cada circunstância

Como se consegue isso? Treinando esta habilidade. Do mesmo modo que aprendemos a ler, aprendemos a escolher.

Você já passou por alguma experiência assim, situação parecida com atitudes diferentes? Vamos conversar nos comentários! Até lá!

Com carinho, 

Cíntia

Picture of Cintia

Cintia

Bióloga, Professora de Mindfulness Neurocognitivo, Coach e Terapeuta Holística em formação, dentre outras coisas. A minha intenção ao escrever é sobretudo partilhar a minha humanidade. Por vezes pura e simplesmente, por vezes trazendo informações científicas e mais que relevantes para o nosso desenvolvimento. O meu propósito de vida é cuidar e sei que quando temos informações, temos liberdade de escolha e que quando partilhamos a nossa humanidade, nos sentimos acompanhados. Vamos juntos.

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