Sofrer… como esta ação é julgada como “ruim” ou mesmo como algo abominável. Nós passamos a vida a fugir do sofrimento, sem sucesso entretanto. Então, por que agimos assim? Bem, está relacionado com séculos conhecendo o sofrimento no dia a dia, como um hábito social e cultural.
Existem até ciências que estudam os seus porquês, a sua biologia, a sua química, e sempre com a intenção de resolver o que se passa, ou até de eliminar.
Eliminar a dor, eliminar a tristeza, eliminar a percepção da vida, nos tornarmos pessoas de alta performance que fazem coisas sem parar e que cumprem objetivos com perfeição. É o que é ♥
E é de tal forma que o sentimento de felicidade na sua mais pura e simples forma é desconhecido, e por isso, assustador. Sabe aqueles raros momentos em que estamos satisfeitos, com um sorriso no rosto, só porque sim?…
Por melhor que seja, ser feliz é um risco e por isso a vontade de permanecer no conhecido, no sofrimento. Faz sentido para você?
Mas ao mesmo tempo, a nossa saúde anda nos dando alertas claros e duros acerca desta insistência impensada: aumenta-se cada vez mais a quantidade de pessoas que sofrem de estresse crônico, de ansiedade, de depressão, pressão alta… E só não trago dados porque quero a sua atenção livre para a seguinte questão:
Como podemos nos cuidar para suavizar o sofrimento e sermos capazes de cultivarmos a nossa felicidade?
Existem algumas coisas que você pode fazer e as escrevo a partir da pesquisa que fiz dos momentos em que estive em sofrimento, como em momentos dos quais fui desrespeitada ou passei por algum tipo de abuso, por exemplo.
Quando os meus limites são ultrapassados por outra pessoa, dependendo da situação, eu passo por um processo que inclui, (A) querer desabafar, me justificar, falar mal e xingar a outra pessoa – sempre recorro a um amigo para isso; (B) querer me mexer para tirar isso da cabeça, o que entretanto me faz pensar ainda mais no assunto; (C) ver os meus hábitos chegarem como uma bomba através da vontade de comer desenfreadamente, por exemplo e (D) me render à exaustão e lamentar a vida.
Entretanto, mesmo em meio a este padrão eu tenho sido capaz de, cada vez mais, me cuidar e fazer com que eu me recupere, recupere a minha energia, a minha vitalidade, mais rapidamente e posso dizer que tenho crescido muito com isso, tirado proveito de cada situação (“Como eu posso aprender com esta situação?”), e é o que eu quero para você também. O que eu notei foi o seguinte:
1 – Sentir os pés no chão me ajuda a trazer a atenção no corpo. A perceber onde estou e que o meu corpo está no mundo físico, real, que tem um chão sob os meus pés, diferente da minha mente que anda a vagar longe de mim, aflita e agitada. Fazer isso me dá a sensação de realidade, e mostra que ela é mais simples do que a minha imaginação conta. Por vezes tiro os sapatos, sinto o chão gelado, ou então faço uma massagem neles. Ajuda MUITO.
2 – Alongar o corpo alivia tensões. Estico as costas abrindo espaço entre as vértebras, estico os braços, o pescoço e as pernas. Fazer isso enquanto a mente está tumultuada me permite não apenas concentrar também a atenção no corpo, que está sempre no momento presente, como me ajuda a abrir espaço, literalmente, para tudo que acontece dentro de mim, possibilitando validar a minha experiência.
3 – Sentir cheiros agradáveis, que eu gosto, desvia a minha atenção do sofrimento por um momento. É como se me desse uma breve folga dos sentimentos que considero desagradáveis no momento. Sabe aquela respiração entre braçadas ao nadar, ou como quando o peito se enche de alívio depois de prendermos a respiração? Funciona mais ou menos assim para mim. Você pode ir até uma padaria que você adora e sentir o cheiro do pão no forno, ou então ir até uma floricultura, ir até a floresta ou à praia. Eu passei a ter óleos essenciais em casa de diferentes aromas, não apenas pelas suas propriedades, mas porque são aromas “fora do comum” no meu dia a dia, que nestes momentos se tornam interessantes para mim.
4 – Escrever, colocar no papel, me permite desabafar livremente, me expressar sem restrições, preocupações ou medo do julgamento. É impressionante como este passo me ajuda, me dá uma sensação de leveza, de que nada ficou por dizer, ou mesmo nada ficou preso dentro de mim. Este passo extravasa a energia que seria direcionada a outra pessoa e que poderia feri-la (porque sei que isso não vai “resolver” nada). Além disso, escolher o que fazer com o papel no qual você escreveu é libertador, queimá-lo, rasgá-lo, amassá-lo, ou então guardá-lo para ler em outro momento, enfim, desta forma transformamos todo o pensar em algo real cujo destino depende somente de nós. Desenhar, fazer colagens, uma escultura com massa de modelar ou argila valem também.
5 – Ajustar a minha postura me ajuda a olhar para a situação da forma como eu quero, não da forma como me sinto. Por mais “para baixo” que eu esteja, eu procuro ajustar a minha postura sempre que me lembro ou que percebo que ela está de acordo com a forma como me sinto em sofrimento. Isso me ajuda a ter uma postura construtiva diante do desafio pelo simples fato de eu, desta forma, sentir que não estou fazendo pouco caso do meu sofrimento e da minha capacidade de superá-lo. E por mais que seja difícil ter forças no nível mental, eu sou capaz de ajustar a minha postura, é uma ação muito simples por si só, não é mesmo? Experimenta agora.
Bem, embora eu tenha te apresentado algumas das maneiras como eu aprendi a agir, eu não subestimo o poder da ajuda, não apenas porque somos seres sociais, mas sei a forma como outra pessoa nos mostra uma perspectiva diferente da qual vemos, e da qual por muitas vezes estamos presos. Assim ampliamos a nossa consciência do que realmente se passa e, quem sabe, até percebemos também um pouco da perspectiva do que ou de quem nos causa o sofrimento. Eu desabafo com o meu marido, mas comunico que vou desabafar e digo o que preciso dele: “amor, vou desabafar e quero o seu carinho” ou “quero a sua opinião”, ou “não quero a sua opinião”, enfim, isso faz com que ele atenda as minhas necessidades e que corra bem este processo.
Ah, se perceber que enquanto sofre não consegue se cuidar, procure ajuda profissional. É algo muito bonito e responsável de fazer por você, é se cuidar também ♥
Quero concluir este texto dizendo que por mais que a gente não queira sofrer, o sofrimento acontece e aprendi que fugir dele só o torna mais forte em nós (assim, sofremos porque sofremos e sofremos também por não cuidarmos do motivo pelo qual sofremos). Mas vale pensar no sofrimento não como algo que existe para nos deixar infelizes, mas como um momento que nos mostra que estamos vivos, acordados, que existe para nos colocar em movimento, e mais, na direção do que nos faz feliz. Afinal, saber o que não queremos também é importante.
Com carinho,
Cíntia