COMO TER A CONSCIÊNCIA DE QUE SOMOS UM TODO.
Há alguns anos comecei um processo de coaching que durou um ano. A minha coach era uma pessoa muito capaz e perspicaz e mergulhei em propostas de práticas mentais de autopercepção e “desbloqueio”.
A minha entrega era tanta, e eu estava tão aberta para viver este processo e ultrapassar, superar e vencer as minhas limitações, que o processo acabou por ser muito intenso e… sofrido.
A cada sessão eu passava mal nos dois dias seguintes, pelo menos. Enxaquecas, vômitos, diarréia, dores no corpo. Algumas vezes surgia apenas um “sintoma”outras, todos juntos.
Além disso, eu me sentia pressionada a ignorar um hábito que cultivei ao engravidar e ao amamentar, que era o de comer demais. Na altura eu comia por necessidade, a gravidez e a amamentação me exigiam comer a mais, só que com o passar desta fase, o hábito ficou, mas o gasto energético não. Eu estava engordando muito.
O processo de coaching com a mudança de hábito era demais para mim e eu estava tão empolgada com a oportunidade de “ser melhor” que fiz uma escolha:
“Primeiro vou cuidar da minha mente, dane-se se eu engordar, não me interessa as emoções que vou sentir, depois eu emagreço, vou me superar e me ver livre destas limitações ou do que quer que me impeça.”
Engordei 15 kg neste processo e as minhas “limitações” estão em mim até hoje. Passei por muita pressão mental, revisitei muitas memórias duras, me desgastei demais na busca dos meus porquês, dos meus pontos fortes, de criar listas para cumprir e me obrigar a fazê-las.
A minha entrega foi tanta que, curiosa como sou, comecei a aprender os fundamentos do coaching, para compreender o que estava sendo feito e também para pesquisar maneiras de conseguir finalmente o que eu queria (e não tinha clareza o que era).
Na altura eu trabalhava como fotógrafa e via um encantamento pela vida a cada entrega de fotografias das sessões femininas. E eu trabalhava através do conforto, estimulando a liberdade e a essência. Convidava as minhas clientes a virem com roupas confortáveis, que as permitiriam sentir-se bem e o resultado, a entrega, eram tocantes “Uau, esta sou eu? Eu sou linda assim?”.
E a partir daí, além da pesquisa e dos estudos, comecei a perceber que, na verdade, não era sobre se colocar em sofrimento para conseguir alguma coisa, e a minha pesquisa tomou o rumo que me fez aprender o Mindfulness porque a base do trabalho é a gentileza e a compaixão, mas vou falar disso em outro momento.
Voltando ao assunto, por mais que eu tenha aprendido muito ao longo do processo de coaching, foi um aprendizado a base de sofrimento, de luta interna, de forçar algumas coisas “goela adentro”.
E nada, entre tudo o que eu passei, me fazia sentir bem comigo mesma, eu continuava com aquela sensação de vazio, de que eu precisava expressar alguma coisa que não sabia o que era. E junto com isso, um diálogo interno duro, de verdadeiras batalhas e dor. E muitos quilos acima do meu peso… sentia-me mal, pesada, feia.
O que aprendi deste processo, ao compará-lo ao processo de prática de Mindfulness foi que a minha mente ocupa o meu corpo, as emoções ocupam o meu corpo, não há limites e barreiras entre o corpo e a mente. No mindfulness começamos por perceber o nosso corpo em movimento e este conhecimento extravasa para o nosso entendimento cognitivo, mental, de forma que fica mais fácil processar todas as informações.
Aprendi também sobre a atitude ao olhar para a minha vida. Ao invés de me preparar para a guerra sempre que ia revisitar uma lembrança, passei a me cuidar para dar espaço para tudo o que eu sentia quando a visitava na minha tela mental. Trata-se de uma atitude que considera o que eu passei e quem eu sou com compaixão, que cuida das emoções que emergem, que cuida das dores do corpo. E essa diferença é abismal.
Veja bem, trata-se da minha experiência e do que aprendi a partir disso, e a minha intenção é a de te convidar a se cuidar como um todo. As experiências de autocuidado atuando juntas promovem verdadeiras transformações e são fundamentais para o nosso bem-estar.
Coloque-se em movimento.
O convite é tentar não ser tão dura consigo mesma, e quem sabe fazer um esporte que te dê prazer, ou aprender a se perceber a cada momento num grupo de prática de mindfulness, talvez fazer caminhadas diárias. A ciência prova que tudo que aprendemos através do corpo, aprendemos também a nível emocional e a nível mental, chama-se Spillover effect ou Transbordamento.
É por isso que quando alongamos o corpo com a intenção de criar mais espaço, aprendemos também a criar mais espaço para as emoções e para os pensamentos. E nós somos capazes de nos alongarmos facilmente, mas não é fácil acolher fortes emoções ou pensamentos duros.
Como este texto chegou até você?
Me conta?
Como seria se sentir acolhida como um todo num processo de autoconhecimento?
Com carinho,
Cíntia