Sinto o fígado na cabeça, na garganta, reclamando – não apenas dos excessos da minha gula, eu bem sei, mas da raiva contida em mim.
Raiva da sociedade, do mundo agressivo em que vivemos, em que a minha filha vive. Falta de respeito, abusos, violência nas diferentes esferas da vida.
Abro espaço para a raiva neste momento. Não quero controlá-la, quero que ela esteja bem viva e genuína para que seja potência transformadora.
Que ela me dê força motora para inspirar, ensinar e cultivar coisas verdadeiramente boas.
Quero me sentir nutrida, não contida. Quero que as minhas palavras abracem uma pessoa que precise neste momento. Quero que as minhas ações transformem a violência do mundo em um choro descontrolado e revigorante, que lave a alma, que se traduza em rendição, confiança, em abraços gentis, em cuidado, em paz, ou simplesmente num querer bem.
É preciso muito, mas que ao me sentir suficiente nos meus passos modestos, faça com que outra pessoa também se permita sentir suficiente o bastante para a própria vida.
Que eu tenha uma coragem viva, medos conscientes, uma fé amorosa.
Que eu deixe ir as incoerências presentes com total desapego.
Que eu possa amar incondicionalmente e me sentir amada assim também.
Que eu seja feliz vivendo o meu propósito complexo e difícil. Que eu possa irradiar essa alegria.
Que eu sinta a vida.
Que eu saiba sempre que “por agora, respirar é o bastante.”
Sinto a raiva em mim.
Sinto a raiva abraçada pela paz.
Não sinto os incômodos no corpo.
Estou bem.
Com amor,
Cíntia Thurler